Amor próprio

Não interpreto mais o que sinto

O paladar amarga o conhecido mel do bem viver

A vista anda embaçada, andar cambaleante

Camaleão ando, mudo matizes de mim, penetro no infinito

E quanto mais aspiro liberdade mais sinto vontade

De voltar e ficar no colo, contar minhas angústias

Tão pequenas, minúsculas, dentro de meu corpanzil chorei

Mágoas de eu pequena, menina vadia, órfã de ti

E como me conhecia, minhas maldades, verdades

Faces de mim, e quantas vezes fomos máscaras a cair

Agora sou cais do porto ansiando tempestade

Lenços ao alto! Marinheiro em alforria! Dia de branco, luto dos mares

Hoje estou só maresia em minha dureza metálica

Despedaço caminhos tortuosos, amasso grãos de areia

Culpo Deus, infinito, as formigas, entes ingratos de minha

Fauna, corpo pede socorro, não há alma que aqui dentro se cala

E meu peito é só lembranças, ó metade exilada de mim!

Levasse minha primeira vez, meu horizonte, sinto-me nua

Lembrar que um dia menina fui sua, ria de mim

E hoje espero que não veja, desmedida, louca, além Lua

Não me venham repor torpes verdades, cresci

Peito aberto, um tanto dilacerado é verdade, estou aqui

Se pequei foi com ele, enfrentamos a ira de cima

Num dia desses até escrevi, pobre rima para você

E como quem ainda não sentiu a onda bater

Ouço quebrar, leva consigo meus encantos

Cantos de sereia, ouço sirenes que não consigo

Entender, é meu fardo não nego, estou a deriva sem você

Pareço louca hoje, não deixe levarem minha insanidade

Sou assim, bato o pé, guardo bem o que cativei, errei

Se foi consigo perdoa, deixe-me recompensar, um beijo

Muitas vezes não é nada, só o que quero acrescentar

Vestir-me-ei não de preto, esqueço o luto dos egoístas

Hoje te homenageio de azul, quiça um grená num dia chuvoso

Lembro-me de seus pedidos bobos, tão poucos, saudosos

Queria o mundo assim colorido, vida com gozos

Colocarei minha máscara de ti e sairei por aí, a amar a mim,

Lembrar você, pedir perdão a formigas,

Errar de novo, serei instintos a proferir

Seu nome na selva, pelos macacos, engolirei sapos... Chegarei até você, enfim!

Gabriel Amorim 05-04-2014