PAPEL DE PÃO.
Por Carlos Sena


Um dia, peito rebentado de saudades,
tentei lhe mandar um carta. 
Correios? Não tinha.
Papel de carta? Não tinha. 
Tinha a mata virgem em volta,
tinha um fogão de lenha aceso
aquecendo tua imagem e essa sim,
eu tinha. 
Para aliviar o peito
cantei solitário um fado...
Inesperadamente escrevi, alado, teu nome
num papel de pão. 
E inflado ficou meu peito 
ajustando a solidão que se esgueirava:
em cada canto da sala,
em cada canto sem fala...
Senti que a noite se ia, mas você não. 
Você tava ali impregnada 
num simples papel de pão.