NASCER PARA O MUNDO...

Naquela madrugada de Setembro,

Estava eu a nascer para o Mundo,

Os pássaros voaram e passaram

Para me saudarem, amor fecundo

Senti, e muito me enterneceram.

O verde mais verde ficou, húmido

Como o meu corpo ainda quente,

Apôs eu sair escorreito, do ventre

De minha mãe que me concebeu

E pra toda a vida me enterneceu.

O odor da minha pele misturou-se

Com cheiros do mato e da maresia,

Que vinham da floresta e da baía,

Eram um apelo à definitiva entrega

Que eu deveria fazer à minha terra.

Cresci e tornei-me homem honrado,

Obreiro, construí o meu património,

Criei família, enfrentei vil demónio.

Estabilizei a minha vida, derradeiro

Foi o ataque de alguém, traiçoeiro.

Ainda sinto hoje meu elo umbilical

Ligado à minha terra, é irredutível,

Foi lá que nasci e cresci, incrível

Ter sido privado de poder usufruir

Do meu habitat natural, meu sentir.

É a simples história duma cruel vida,

Como a de muitos milhões de seres

Que vieram a este mundo pra sofrer

Enquanto outros esquecem a maior

Parte dos que têm sabedoria e valor.

Ruy Serrano, 31.03,2014, às 10:20 H

Ruy Serrano
Enviado por Ruy Serrano em 30/03/2014
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