Estilhaços
Não, por favor, não peças minha opinião
Eu julgarei, de novo e como sempre
Erroneamente te aconselharei e havemos de chorar
Juntos, perdidos, abraçados, de novo não
Paremos de repetir essas bobagens, problemas
Simples, tempestades... Copos d'água
No fim tudo são goles, engolir
Colocar pra dentro, para amar
E nas inundações de minh'alma reclamo
Posso até pedir clemência, paciência
Erro também, abro barragens de mim
Desemboco a tudo e a todos, somatizo goteiras
E o barulho ensurdecedor do pinga-pinga
Vai me deixando louco, absorto
Nas lagoas de nós dois existe sal
Lacrimejam os crocodilos rotos
Se Deus pode abrir mares por que tu não?
Se outros já te obedeciam por que não escravo eu?
Porquê tão diferente esse ser molhado?
Saindo de zonas abissais te fazendo enxergar
Sim, posso ser o monstro dos teus lagos
As caravelas contra a maresia dos teus passos
Os barquinhos de papel em rios sem patos
As pegadas na areia de casais... molhados
E se eu for a última gota de um transbordar
Eminente, espero a minha vez tortura a pia
Enferrujada nossa fonte está entupida
Chora eu, chora você, num balde de emoções que já secou
E essas constantes inconstâncias refrescam
A memória, meus tempos áureos de criança
Lembro da água na cacimba, esperança em forma
De barro Deus tirou Eva e Adão, pecaram
E nós, panelas fervilham, fontes escaldantes
Queimaduras leves e graves, nós dois
Se a culpa não tiver a quem dar, culpemos
A água cristalina. O copo, trincado, que um dia veio a quebrar...
Gabriel Amorim 19/02/2014