Pela Metade

(Kleid, in memorian)

Pela Metade ficou a garrafa de vinho

Que ficou na mesa do bar da vida

Pela Metade ficou a feitura daquele ninho

Quando se viu aquela árvore partida

Pela metade ficou o copo de mágoa

Depois que se aprende sobre o perdão

Pela metade ficaram os olhos rasos d’água

Logo que o amante escutou da amada o “não”

Pela Metade é o dia nublado e sem chuva

Que dispensa o sol num livre desprazer

Pela Metade é o cacho ainda verde de uva

Quando o moleque enamora esperando amadurecer

Ah, como tudo o que fica pela metade

Causa tanto por inteiro dentro da gente

Sendo que tudo na realidade

São nossos anseios e a impaciência latentes

De viver numa velocidade

Que nos consomem de forma inconsequente

Pela metade me sinto quando não me vejo aqui dentro

Como se do lado de fora me visse uma TV fora do ar

E no abalo de tudo vejo apenas o epicentro

Um pássaro com apenas uma asa para voar

Pela metade ficaram todos os cantos da casa

Dou bom dia pra vida, mas ela está faltando um pedaço

A piscina ficou funda que antes era tão rasa

Tudo era maleável e agora ficou duro como aço

Pela metade fiquei

Depois que você entrou no trem

Agora já sei

Que minha outra metade você levou pro além

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 05/02/2014
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