Pela Metade
(Kleid, in memorian)
Pela Metade ficou a garrafa de vinho
Que ficou na mesa do bar da vida
Pela Metade ficou a feitura daquele ninho
Quando se viu aquela árvore partida
Pela metade ficou o copo de mágoa
Depois que se aprende sobre o perdão
Pela metade ficaram os olhos rasos d’água
Logo que o amante escutou da amada o “não”
Pela Metade é o dia nublado e sem chuva
Que dispensa o sol num livre desprazer
Pela Metade é o cacho ainda verde de uva
Quando o moleque enamora esperando amadurecer
Ah, como tudo o que fica pela metade
Causa tanto por inteiro dentro da gente
Sendo que tudo na realidade
São nossos anseios e a impaciência latentes
De viver numa velocidade
Que nos consomem de forma inconsequente
Pela metade me sinto quando não me vejo aqui dentro
Como se do lado de fora me visse uma TV fora do ar
E no abalo de tudo vejo apenas o epicentro
Um pássaro com apenas uma asa para voar
Pela metade ficaram todos os cantos da casa
Dou bom dia pra vida, mas ela está faltando um pedaço
A piscina ficou funda que antes era tão rasa
Tudo era maleável e agora ficou duro como aço
Pela metade fiquei
Depois que você entrou no trem
Agora já sei
Que minha outra metade você levou pro além