SAUDADES DOS BELOS TEMPOS

SAUDADES DOS BELOS TEMPOS

Praia de Boa Viagem - RECIFE/PE

"Olha o alho!... Abacaxis!...

Chapeuzinhos e pulseiras!...

Licor... refresco de pêras!...

Unguento pra panariz!...

Olha os tachos e as peneiras!

Redes... feitas pelas freiras!...”

Reclinadas nas cadeiras,

De costas ou de bumbum,

Enlouquecem qualquer um.

De fio dental, as faceiras,

Fingem não ver o gatão

Que as olha com atenção.

Na avenida o trio-elétrico

Faz o fundo musical

Para alegrar o pessoal.

Dançando um frevo frenético,

Merengue mais a lambada,

Vai pulando a rapaziada.

Coroas também paqueram

Com muito charme e fragrância.

Procuram com certa ânsia

Por aquelas que os toleram,

Fazendo uma sindicância,

Mas sem perder a elegância...

À noite, pela avenida,

Os namorados passeiam,

E seus corações anseiam

Um amor pra toda vida.

Enquanto eles devaneiam

Os seus beijos saboreiam.

Caminhando de mãos dadas,

Sentados bem abraçados,

Deitados entrelaçados,

E todos com as namoradas,

Espalham-se pela areia,

Enquanto a onda serpenteia.

Observando ao redor

O que se passa na rua,

Fico no “mundo da lua”.

O porquê já sei de cor,

Não posso me conformar:

Tudo fora de lugar!...

Os carros em disparada

Não obedecem sinal.

Se atropelam, não faz mal.

Com ruídos e buzinada

Avançam sobre o pessoal,

Num rebuliço infernal!

Ao próximo não respeitam,

Que se dane o pessoal,

Ou se tranque no quintal.

Entretanto não rejeitam

Sua vontade, a seu jeito.

Isso é um grande defeito!

Todo mundo tem mania,

E pensam que isso é normal,

De tornar tudo informal.

O respeito e a cortesia

Sempre têm o seu lugar

Em toda a parte e no lar.

Cada dia há mais mendigo

E a miséria toma conta.

E que futuro se apronta?

Ouça bem o que lhe digo:

Ou pôr a turba empregada,

Ou adotar a meninada.

De vadios o mundo é cheio,

Se esparramam pelas ruas

Em carroças ou peruas.

Há pobres e ricos, creio,

Que nada fazem de útil

E primam em ser inútil!

Na avenida as bicicletas

No trânsito entremeando,

Vão na faixa se espalhando...

Há também muitos atletas,

Que por ali vão passando

A correr e se arriscando...

Papeleiros, ademais,

Completando a confusão,

Vão andando em “procissão”,

Puxando, como animais,

Seus carrinhos, lá se vão...

Na Boa Viagem de então!...

Maria do Céo Corrêa
Enviado por Maria do Céo Corrêa em 02/02/2014
Reeditado em 30/11/2014
Código do texto: T4674538
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