Minha boca
Minha boca
Traz as marcas de teus dentes
Doces, afiados e indecentes
Beijos febris que te dei
Minha boca traz a fome de tua língua
Fala rouca, cordas soltas
Vocais notas de aflição
Dedilhadas na ponta da minha língua
Nos dentes que rangem saudades
Incendiárias músicas aquecem
Ecoando acordes nos labirintos de mim
Minha boca, que calada geme
Chama, brada, implora e inflama
Rasga na garganta um trovão e fim
Minha boca sem a tua assim,
trava-se guardando teu beijo
teu sabor, tua loucura e teus desejos
E por fim, se fecha, vira ostra!
emudece, desfalece, e tenta
desesperadamente adormecer
Minha boca sem teu beijo
É um triste riso tímido
ínfimo traço assim...
E assim sendo,
Minha boca sem a tua boca
Se esquece até de mim.
Márcia Poesia de Sá.