Olor de Mãe
Hoje eu amanheci num tempo outro.
E passei os pés da cama
E passei as mãos pelos cabelos meus
E os meus olhos eu fechei.
E passei as mãos no rosto teu...
Fino... Tal a mais nobre porcelana.
Tacteei... Me perdi...
E encontrei a ti... Tão cândida...
Tal como deveriam ser os rostos de todas as mães.
Hoje eu amanheci com o teu cheiro no ar.
E passei para o outro lado de mim
E passei os pés pelas mãos
E os meus olhos eu abri
E quase pude vê-la.
E senti-la...
E deitei-me eu em teu colo que eu mesma fiz.
E passou por mim o teu pisar firme de todos os chãos.
Principalmente se o chão não era o teu.
Levantei-me... Mirei-me no espelho
E de ti... Nada encontrei.
Apenas a coragem de pisar em qualquer chão.
Principalmente se este chão não é o meu.
A minha boca eu serrei.
E deixei que os meus olhos falassem por mim sobre o que eu nem sei falar.
E eles falaram muito de nós...
E foi por um largo tempo sem ponteiros. Sem norte. Desarrumada- mente.
Falaram tanto que molharam toda a casa do meu coração.
E eu fiz a Deus uma oração...
Para que possas tu, caber, então...
No meu andar sobre o mundo.
Eu que nada tenho de ti.
Eu que já não tenho a ti.
Eu que tenho apenas o que sobrou de mim depois de ti.
Eu... Que apenas aprendi a andar firme nos diversos chãos...
Principalmente nos chãos que não são os meus.
E orvalho-me em ti, minha flor em botão...
E dispo-me inteira a ti...
Avesso-me. Despeço-me.
E guardo-te novamente e sempre
Na dor, que de vez em quando,
Eu costumo chamar de saudade.
E invade-me de olor de mãe... De minha mãe...
Que tresanda suavemente... Sempre...
Na casa desarrumada do meu coração.
Karla Mello
16 de Janeiro de 2014