poesia em pleno vôo
amanhã quando a poesia partir
o sol não nascerá.
a lua suspensa no céu,
despencará num mar de agonia
e tristeza
amanhã quando a poesia embarcar
naquele cais distante
as âncoras profundas
suspiram a sua ausência
não há mais seu perfume,
não há o reflexo da luz esverdeada em seus óculos
não há sua mão a tocar os cantos
do impossível
tudo que há é saudade
ou vertigem
é paisagem ou lembrança
é borrão sob a tela
é palavra mas não é literatura
amanhã quando finalmente
a poesia partir
ouvirá um clique
misterioso barulho a
segredar o fechamento das artérias,
dos pulmões
o silêncio cessará os batimentos cardíacos
e os canários cantaram
como num ritual rítmico de paixão
e tristeza
chamando de volta a
poesia...
quando a poesia regressar
subitamente a terra parecerá mais bela,
a mão mais ágil,
o corpo mais jovem,
e a palavra terá fonemas, músicas
e enfim, significado.
quando a poesia sobrevoar
o mar
deixará pequenos vestígios,
de rima,
de lirismo,
de beleza contida e imensa
por entre olhares, palavras,
gestos e cores.
vestirá a luva da realidade
e irá ao baile
dos signos.