poesia em pleno vôo

amanhã quando a poesia partir

o sol não nascerá.

a lua suspensa no céu,

despencará num mar de agonia

e tristeza

amanhã quando a poesia embarcar

naquele cais distante

as âncoras profundas

suspiram a sua ausência

não há mais seu perfume,

não há o reflexo da luz esverdeada em seus óculos

não há sua mão a tocar os cantos

do impossível

tudo que há é saudade

ou vertigem

é paisagem ou lembrança

é borrão sob a tela

é palavra mas não é literatura

amanhã quando finalmente

a poesia partir

ouvirá um clique

misterioso barulho a

segredar o fechamento das artérias,

dos pulmões

o silêncio cessará os batimentos cardíacos

e os canários cantaram

como num ritual rítmico de paixão

e tristeza

chamando de volta a

poesia...

quando a poesia regressar

subitamente a terra parecerá mais bela,

a mão mais ágil,

o corpo mais jovem,

e a palavra terá fonemas, músicas

e enfim, significado.

quando a poesia sobrevoar

o mar

deixará pequenos vestígios,

de rima,

de lirismo,

de beleza contida e imensa

por entre olhares, palavras,

gestos e cores.

vestirá a luva da realidade

e irá ao baile

dos signos.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 26/04/2007
Código do texto: T465194
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