Ele

Ele pedalando

a bicicleta na Beira-Mar

nem se apouquenta

com o calor e a luz

do Sol que adentra

suas retinas,

introjetando cores

múltiplas

nas semicerradas órbitas,

alimentadas pela beleza

contextual

ali

na enseada do Porto Artur.

O ir-e-vir cotidiano

do Maracajá ao Murubira

era-lhe um puro deslizar de pneus

deglutindo as distâncias

no entrecortar

das aragens contra,

ou a favor...

Este ciclista bonachão

apenas se preocupa

que a água siga

dos poços da Cosanpa

−cristalina e pura e farta−

para as torneiras e chuveiros ilhéus.

Somente quer saber

dos filhos bem alimentados,

da esposa feliz

exalando luminosa

beleza pelos sorrisos

da família

que de fato

tem um lar,

todos com saúde,

estudando

e sonhando

projetos de vida e de futuro...

Ele: cabeça fria,

sandália no pé,

sorriso no rosto,

braços fortes,

camisa no ombro,

mãos calejadas-carinhosas,

apesar de pesadas

(mas que também sentiam a dor)

quando precisavam dar

merecidas palmadas...

As piadas eram de gargalhar

quando as contava

para nós

ou para os muitos amigos...

Ele ainda segue pedalando,

renunciando a um belo nascente

surgindo lá atrás,

pingando luz

e exuberância

pela atmosfera

que vai deslizando-subindo

rumo a um azul infinito...

E segue até hoje ainda pedalando

sob um sanguinolento

pôr do sol

que se espelha na calma Baía...

E ele vai prosseguindo

por uma infindável vereda

sobre o mar

rumo ao Marajó,

este arquipélago intangível

de esperança e paz...