LEMBRANÇA
Um dia,
Nem me lembro mais quando,
No auge da adolescência,
Levaram de mim seu olhar.
Justo de mim levaram seu olhar !
(Eu que não cansava
De fitar seus olhos).
Ficou somente a verde lembrança
Daquele poema que me recitavam:
* Dizei vós; Triste do bardo !
Deixou-se de amor finar !
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem esperança,
Davam amor sem amar !
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mim !
Não pertenço mais a vida
Depois que os vi !
Quem teria sido o poeta misterioso
Que um dia,
Num domingo da minha juventude,
Disse tamanha verdade?
Há coisas na vida
Que se leva para a eternidade.
* Gonçalves Dias
in Últimos Cantos, 1851