LEMBRANÇA

Um dia,

Nem me lembro mais quando,

No auge da adolescência,

Levaram de mim seu olhar.

Justo de mim levaram seu olhar !

(Eu que não cansava

De fitar seus olhos).

Ficou somente a verde lembrança

Daquele poema que me recitavam:

* Dizei vós; Triste do bardo !

Deixou-se de amor finar !

Viu uns olhos verdes, verdes,

Uns olhos da cor do mar:

Eram verdes sem esperança,

Davam amor sem amar !

Dizei-o vós, meus amigos,

Que ai de mim !

Não pertenço mais a vida

Depois que os vi !

Quem teria sido o poeta misterioso

Que um dia,

Num domingo da minha juventude,

Disse tamanha verdade?

Há coisas na vida

Que se leva para a eternidade.

* Gonçalves Dias

in Últimos Cantos, 1851

Edson de Barros
Enviado por Edson de Barros em 10/12/2013
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