DORIDAS RECORDAÇÕES
Lembro-te, mãe, o olhar perdido,
numa cadeira sentada, sem nem saber porquê.
Olhavas o passado?... o futuro?... o nada?...
num silêncio profundo, sem nada perceber!
Lembro o teu olhar de susto coroado,
A tua boca calada, os teus lábios apertados,
na solidão interior dos que breve vão partir!
Lembro os teus cabelos tão escassos, quase nada
e a pele desbotada, de pontinhos manchada,
transparente, ressequida, tão desidratada,
sobre os membros finos, já sem carne... só ossada!
Lembro o teu andar, já sem forças, desequilibrado,
como um bebê medroso de os primeiros passos dar!...
A diferença é que os teus, mãe, já eram os derradeiros
na caminhada curta, que te restava ainda!
Lembro o teu corpo, no antanho vigoroso e ágil,
tão pequeno, tão mindinho e tão frágil,
encolhido pelas dores e deformações.
Enfim, te lembro num leito hospitalar
tão entregue, sem gemidos, tão resignada,
vendo os laços se rompendo a cada respirar...
e eu, ali, ao teu pé, sem saber como agir!
E depois, mãe, sinto o teu partir, para nova alvorada,
como águia que debanda para o cimo da montanha,
sem poder nem ao menos, a mim, dizer "já vou"!
Ah, como lembro... e como sofro ainda!