DORIDAS RECORDAÇÕES

Lembro-te, mãe, o olhar perdido,

numa cadeira sentada, sem nem saber porquê.

Olhavas o passado?... o futuro?... o nada?...

num silêncio profundo, sem nada perceber!

Lembro o teu olhar de susto coroado,

A tua boca calada, os teus lábios apertados,

na solidão interior dos que breve vão partir!

Lembro os teus cabelos tão escassos, quase nada

e a pele desbotada, de pontinhos manchada,

transparente, ressequida, tão desidratada,

sobre os membros finos, já sem carne... só ossada!

Lembro o teu andar, já sem forças, desequilibrado,

como um bebê medroso de os primeiros passos dar!...

A diferença é que os teus, mãe, já eram os derradeiros

na caminhada curta, que te restava ainda!

Lembro o teu corpo, no antanho vigoroso e ágil,

tão pequeno, tão mindinho e tão frágil,

encolhido pelas dores e deformações.

Enfim, te lembro num leito hospitalar

tão entregue, sem gemidos, tão resignada,

vendo os laços se rompendo a cada respirar...

e eu, ali, ao teu pé, sem saber como agir!

E depois, mãe, sinto o teu partir, para nova alvorada,

como águia que debanda para o cimo da montanha,

sem poder nem ao menos, a mim, dizer "já vou"!

Ah, como lembro... e como sofro ainda!

VanePedrosa
Enviado por VanePedrosa em 15/11/2013
Código do texto: T4572020
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