AUSÊNCIA
Um lenço de papel perfumado:
amassado num canto do quarto
Na mesa vazia, uma chávena de chá
migalhas de pão recolhidas numa pá.
Fragrância do perfume "reviens"
na máquina de lavar teu "soutiens"
a cama cuidadosamente arrumada,
coberta encarnada, posta, rendada.
"Rimel" marca o teu travesseiro,
tuas roupas: no cesto do banheiro,
"box" salpicado de gotas do banho
o roupão úmido do teu corpo ponho!
No guarda-roupa, um cabide vazio,
do terninho cinza que você vestiu!
O perfume voltarei está presente
lembrando teu corpo ora ausente
Resgate, vestígios de um romance,
que ainda ontem esteve ao alcance,
sinto ainda os beijos dos teus lábios,
o teu corpo molhado, os trovões e raios!
Infeliz por faltar nossos momentos,
tu não estás e nem teus aconchegos!
A noite é triste sem os nossos beijos,
como domar: a pulsação e os anseios?
Maldito tempo que rouba os espaços,
sem compromisso desfaz os laços,
porém, a felicidade resiste na lembrança:
do "rímel", "box" do perfume, da esperança,
que voltarás, como a essência do perfume
que teu hiato simplesmente se resume,
no lapso adocicado desta ansiosa espera,
na somatória das saudades e das quimeras...