AUSÊNCIA

Um lenço de papel perfumado:

amassado num canto do quarto

Na mesa vazia, uma chávena de chá

migalhas de pão recolhidas numa pá.

Fragrância do perfume "reviens"

na máquina de lavar teu "soutiens"

a cama cuidadosamente arrumada,

coberta encarnada, posta, rendada.

"Rimel" marca o teu travesseiro,

tuas roupas: no cesto do banheiro,

"box" salpicado de gotas do banho

o roupão úmido do teu corpo ponho!

No guarda-roupa, um cabide vazio,

do terninho cinza que você vestiu!

O perfume voltarei está presente

lembrando teu corpo ora ausente

Resgate, vestígios de um romance,

que ainda ontem esteve ao alcance,

sinto ainda os beijos dos teus lábios,

o teu corpo molhado, os trovões e raios!

Infeliz por faltar nossos momentos,

tu não estás e nem teus aconchegos!

A noite é triste sem os nossos beijos,

como domar: a pulsação e os anseios?

Maldito tempo que rouba os espaços,

sem compromisso desfaz os laços,

porém, a felicidade resiste na lembrança:

do "rímel", "box" do perfume, da esperança,

que voltarás, como a essência do perfume

que teu hiato simplesmente se resume,

no lapso adocicado desta ansiosa espera,

na somatória das saudades e das quimeras...

Domingo Lage
Enviado por Domingo Lage em 03/10/2013
Reeditado em 16/10/2013
Código do texto: T4509872
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