Primavera presente
Na primavera de hoje
As flores estão mortas
Murchas e desmaiadas
Por excesso de calor, sol
e tristezas
Na primavera de hoje
O pólen também é natimorto
Dentro do centro das flores
E abortou outras possíveis primaveras
O lírio lá fora, em meio ao lamaçal,
Desafia a lógica estética e a higiene ortodoxa.
As papoulas lá fora gemem ao vento.
Num desvario lânguido.
E não sabem
que a insanidade é reinante.
Na primavera de hoje
Amarga vida é traduzida pelas
Flores silvestres
Pequenas, miúdas e tímidas
Nascem pelos cantos, nas frestas
Pelo desleixo ou distraição
Na primavera de hoje
As cores estão geométricas
Condensadas por uma luz espectral
Os amores secretos da primavera
não desabrocharam
Os segredos tidos pouco antes de dormir
Se apagam no sonho
De que é de novo inverno
E a friagem faz congelar o tempo
E a memória.