EU NÃO IA ESCREVER NADA...
NO FIM DA NOITE DE 14 DE SETEMBRO DE 2013
não ia escrever nada
mas a noite urge
a noite uiva
na noite que não é nada
na noite que não existe
na noite deste apartamento
sem lua nem estrela nenhuma
e eu queria
sair por aí
sair por aí
sair por aí
andar andar andar
até o fim das ruas
até o fim do mundo
e de repente
na penúltima rua
perto da esquina com a rua do fim do mundo
beijar sua boca
e você fechasse os olhos
como se eu fosse ainda
a mesma de há onze séculos
os cabelos jovens
as estrelas nos olhos
as estrelas que eu não sabia
a boca vermelha
a lua cheia dos seios
no céu da sua boca
as estrelas que se erguiam
ao céu do quarto
de repente
nós na penúltima rua
antes da sua viagem
- você está sempre em viagem –
nós inteiros
nas bocas selvagens
uma dentro da outra
na penúltima rua
antes da esquina com a última rua do fim do mundo
meu amor
canção de brancos cabelos
e óculos escuros
na penúltima rua
antes da esquina
com a rua do fim do mundo
eu sei que não ia escrever nada
mas a noite-lobo
uiva, uiva
por minha garganta
sem saída nesta sala
uiva pelas minhas pernas
sem saída
para ruas nenhumas
sem saída
para as nossas bocas dentro uma da outra
na penúltima rua
antes da esquina
com a rua do fim do mundo
um dia como quando fui jovem
em uma noite
de há onze séculos.
Ah, não foi nessa rua
a penúltima
quase na esquina
com a rua desse fim do mundo.
Era outra a rua.
Ou poderia ter sido.