EU
Sou folhas outonais da poesia,
sou galhos secos de um verão forte,
sou tronco carcomido pela saudade
Sou estrada poeirenta sem chuva,
sou fragmentos de coração decepcionado,
sou nuvem estéril num céu azul
Sou espaço onde ninguém quer passar,
sou abraços que tanto anseiam abraçar,
sou beijos que já não desejam beijar
Sou resto de sorrisos que morreram cedo,
sou palavras esvaziadas pela falta de resposta,
sou lágrimas derramadas à falta de alguém
Sou a simplicidade não compreendida,
sou a felicidade nunca esquecida,
sou a infelicidade jamais pretendida
Sou o algo mais que não foi percebido,
sou o mínimo múltiplo comum humano,
sou o anônimo que passa e ninguém vê
Sou mero sol apagado pela melancolia,
sou aquela chuvinha sem graça que incomoda,
sou a poeira irritante se tornando argueiro
Sou nada mais e nada menos, nadinha,
sou o menor dos ínfimos poetinhas
sou o vagar do trem perdido na linha
Sou apenas o que sou sem nada ser
sou o poeta desprezado por você,
sou o que um dia teve seu amor sem ter
Sou meu ego desprovido e fugaz,
sou à parte desse povo sagaz,
sou tão-só um poeta em busca de paz