NOITE ANTIGA
Tem noites em que volto no tempo...
Geralmente é noite de inverno
e o edredom me abraça como se quisesse
acalentar minhas saudades...
No aconchego hiberno...
Geralmente é também lua cheia
que fria, longe e talvez úmida
envolve-me enternecida
com as brumas dessas lembranças...
A lembrar, sinto-me guarnecida...
Em meu recanto de infância
as noites chegavam mais cedo...
Serras azuladas escondiam o sol
e o frio entrava pelas frestas da janela...
Lá fora o vento soprava o arvoredo...
Eu observava as sombras da lua
nos beirais do telhado e me encolhia...
Então chamava minha mãe e quando
respondia-me, logo o sono chegava...
Nos braços dos anjos eu dormia...
Às vezes ouvia-se o som dissonante
de longínquos pássaros noturnos
e galinhas a cacarejar em seus poleiros...
alguma vaca mugia por perto...
Eu imaginava fantasmas soturnos...
Acalentada pelas cobertas de lã
tecidas no tear rústico, e o murmurar
do vento frio lá fora, eu dormia
o sono inocente dos anjos...
A alma casta a marinar...
Agora por essas noites antigas
flutuo vagamente... viro-me na cama...
Lá fora o frio dilacera e a lua branca,
nua e distante vela as lembranças...
A saudade vem e se inflama...
( Uma alusão à lua cheia que será hoje e às luas cheias de minha infância. Saudades de lá... )
( Imagem: google)