FICO
Recolho-me a casa, ora vazia e fria
rebusco nas gavetas antigas fantasias,
navego só dentro do meu universo
esbarro na tristeza destes versos!
Delatam os ponteiros as horas
é cedo reluto em ir embora!
Dançam no quarto imagens distorcidas
na sala resquícios de vidas indefinidas.
Sinto: o farfalhar de folhas no quintal,
da cozinha, da mesa farta, do natal,
do vento que ora maltrata a janela,
das crianças, presentes, da vida bela!
No corredor a rosa murcha no solitário,
longínquo sinos soam d'um campanário!
Abro a despensa: sobras emboloradas,
procuro nos cômodos a voz da amada!
Abro a porta do pequeno escritório
a água ainda escorre d'um lavatório
a máquina de datilografia está inerte
dos olhos uma lágrima saudosa verte!
No jardim: o mato toma conta das flores,
na garagem: tralhas e um pneu vazio!
Saudades: das cores, luzes, dos perfumes,
me agasalho, recordo, sinto frio...