Remorso
Faço versos perversos sem lágrimas .
Na seca intensa de meu rosto
assombra-me o desencanto solene
Não tenho pranto e nem dor...
Há o vazio extenso da indiferença.
O sangue de meus versos
Evaporou-se pelos ventos
E, nas madrugadas frias e escuras
perdeu-se em descaminho.
Contrabandeou afeto do passado distante
e plantou no cimento do presente.
Assistirei o afeto morrer lentamente
sem que de meus lábios o selassem
com o romance das palavras doces.
É uma autotortura.
Minha angústia crivada de lembranças
fica a desconfiar
se isso afinal seria felicidade
Se os corpos que se encaixam eram fiéis
ao sentimento, ao momento ou mero desalento.
Ou se apenas praticavam a poesia corporal
ao relento e
diante do descalabro dos tempos.
Sua mão ainda firme,
Seus olhos de guerreiro cansado
E uma fresta em seu coração.
Iluminou-me todo o dia.
Retirou do canto da minha boca o amargor
Do deserto pavimentado em meu redor.
Saudade ficou triste.
Ausência ficou colorida.
E, recolho-me ao desvão
do remorso que dói no peito
e pinga quente
sobre um coração morto.