Pessegueiro

Nunca pude esquecer o gosto e o desgosto

de afagar as rugas e as cicatrizes

que o tempo e a maldade riscavam em teu caule.

O gosto de sentir o resto de tua seiva insistente

e o frescor da sombra que tanto bebi.

O gosto de ver em tuas flores,

as primeiras poesias que vivi.

O gosto de te saber casa e abrigo

do colibri que nos frequentava

e do gnomo que nos assombrava.

Mas depois, a vida levou as folhas e as almas.

As crianças cresceram, os amores se foram

e os caminhos foram todos andados.

Resta a árvore morta

e cruzar a última porta.

"Saudade do Pessegueiro ressecado que foi o primeiro cavalo, de todos que eu nunca tive".

Para a Musa.