um oleiro de mim...
saudades das tuas mãos...
as tuas mãos são tão belas...
têm o toque da Arte de ser o meu pai sem nunca as terem sido.
tens o Amor na ponta dos dedos...
saudades tuas... do teu sorriso alvo...
dos teus olhos que lembram os de nossa mãe.
saudades das coisas que só tu sabias me explicar.
saudades da tua couraça sisuda que veste a tua alma quase materna.
saudades dos teus cuidados sempre... sempre gentis.
sinto-me tão órfã longe do teu olhar...
mas a vida! a vida!
e os relógios que nunca descansam...!
e tantas coisas são ditas e quebradas... lamento...
mas o meu amor... o meu amor...
este nunca quebrar-se-á.
não o meu... e sabes tanto de mim... tu me conheces!
sou rosa desabrochada em tuas mãos...
sou livro que já leste... e releste... tantas as vezes!
algumas partes até ajudaste-me a reescrever...
com a tua Arte que sái pelas pontas dos teus dedos...
um oleiro de mim... do nada que fui... do quase nada que ainda sou.
eu não deixo-te... e nem posso!
saudades tuas... menino sempre meu que fez de conta que cresceu...
que perde-se entre espátulas e pincéis... e barro e pedras...
caminhas tu sobre as pedras da vida!
transforma-as todas em Arte... salve, salve a tua Arte!
da que te olha de longe...
mas que ama-te de perto e todos os dias eleva-te uma prece.
da que não te esquece... colo meu... amor meu...
daquela que escolheu ser "do mundo" e não ser de ninguém... perdida.
apenas tua... a tua menininha...
ainda com medo dos trovões do céu da nossa infância...
de calcinhas e regador em forma de sapo nas mãos...
e que não quer crescer apenas a ti...
e que rega os caminhos por onde tu passares...
da tua casa-coração... o meu lar...
rego com preces... com flores... da eternidade.
Karla Mello
03 de Julho de 201