MISSIVA CATINGUEIRA (A Bizunga e o Facheiro)
Me perdoe meu amor
Pelo meu amar tão bruto,
Meu carinho diminuto,
Peito pouco acolhedor.
Sabe Deus, meu confessor,
Que apesar dessa rudeza
Há um tanto de pureza
Por detrás dos meus espinho.
Em meio ao meu desalinho
Tente ver que eu te amo,
Que por tua brisa clamo
Para mover meus moinho.
O beija-flor do sertão
Faz seu ninho na urtiga,
Entre espinhos se abriga
De cobra, rato e furão.
Ô, meu amor, chore não
Se em mim tu se espinhar,
Pois quando a seca passar
Serei chuva de carinho
E tu, bizunga no ninho
Tal qual santa num altar.
Sou facheiro seco e antigo
Espinhando quem me abrace
Mas meu bem, é só disfarce
Pra espantar os inimigo
Do nosso amor e eu te digo:
Se minha casca endureceu
E entre espinhos se escondeu
(Queira Deus tu entender)
Foi só para proteger
Esse amor que é só seu
Bizunguinha, se ainda assim
Pra longe tu quis voar
Secarei a te esperar
Nessa caatinga sem fim.
Quando puder pense em mim,
No meu espinhento amor
Que hoje causa tanta dor,
Mas já foi teu passarinho.
Assinado, com carinho,
Teu facheiro beija-flor.