Instantes

Haverá sempre o outono

As folhas caindo.

As árvores envelhecendo.

Os ventos uivando segredos.

E a sensação de que o tempo passa.

Passa eternamente...

E nos deixa a beira de uma lápide.

Haverá sempre o inverno.

O frio a corroer as costelas

A zombar das cobertas

E gélido prazer de abrir a porta

E escolher o vento para decolar.

Haverá também a chuva

Lavando as calçadas.

Regando a vida lá fora.

Miúda ou graúda...

Temporais fortes e inundantes...

Ou o breve orvalho da manhã.

Há na chuva um bálsamo misterioso.

A imantar as lembranças com

o chiado da chuva sobre os telhados...

As estações nos confundem...

Os hormônios nos confundem...

A estrada já não é a mesma...

Os passos se amiudaram...

As pernas encurtaram...

Há apneia onde antes havia fôlego.

As escadas parecem ser mais íngremes

As rampas são inacessíveis...

E há algo de sólido que não conseguimos engolir...

As palavras jamais ditas....

As declarações inusitadas e silenciadas pela covardia...

A sílaba interrompida pelo abismo

Ou a semântica escorrida no infinito

De olhares, reticências e saudades.

Não decifrei o segredo do outono.

Não decolei com o vento escolhido.

Não lembrei de tudo que queria

no dia chuvoso.

Só guardei o silêncio mágico das

estações da vida.

Os instantes infinitamente vividos.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/05/2013
Código do texto: T4314391
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