Mãevó.
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dobrava os lençóis do mesmo lado da cama
sentadinha, cantando: "hum, hum, hum, hum,hum,hum..."
mãevó começava o dia com música de ninar,
pra ninar o rio, dizia,
pra amansar o mar.
Ninar a vida embalada de redes,
emboladas de lençóis brancos de areia...
Mãevó dobrava o espelho em dois
pra que em cada face, fase,
se pudesse ler do inverso no verso
as palavras secretas da água.
De tanta saudade de ninar mar, meu olho é d'água,
minha vista se perde: saudade tem fim não,
tem é essa água de colônia, esse cheiro de travesseiro,
de vestido de chita. Saudade tem colo
e minha vista estreita.
São os olhos de mãevó que me carregam...
Por que essa saudade, mãevó?
Mãevó contou pra mim:
saudade embala os sonhos,
embala a casa de águas
e enreda de novo, o tudo de novo e tudo de novo
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saudade é o mar, o mar, minha pequena.
Patrícia Porto