VOZ DA VIDA (Adeus ao meu paizinho, 12 anos de saudade)
Acordou a manhã silenciosa, quase em pranto
recebeu o sol, como se um estranho lhe fosse
nuvens carregadas de um cinzento triste
tentaram esconder a luz como se compreendesse
Aquele manto cobrindo toda a terra ainda fria
como a querer preservar o silêncio daquela noite
apagou enfim a luz que em vão tentou brilhar
e no desespero choraram as lágrimas companheiras
Céu e terra aproximaram-se por um momento
uma mesma angustia unia aquelas faces
talvez num instante único compreendessem
que as dores iam além de qualquer distância
Rasgou-se o véu, apagou a luz do olhar
fechou as portas rumo à última passagem
cerrou os lábios, calou todas as palavras
sepultou o sorriso e naquela noite adormeceu
Célia Jardim