era um bule redondinho...
e estava ela "curtinha"...
não nas poucas ideias que alimentavam-na os poetas tantos!
e estava ela "grossa"... espessa e muda.
disse-me ela que as suas asinhas de borboletas caíram.
e estava ela casulo novamente... e introspectiva demais!
sobrancelhas em siso...
e com ares de "não me toques" impacientes...
mas... mentira...
estava ela tão frágil... e sempre só.
coou-me, então, um café com as suas tantas teias...
e aparou-o num bule redondinho.
disse-me ser da sua filha...
não sei eu por quê chorava ela...
mas era um choro doce... terno... materno, eu diria.
que pingava em gotinhas sobre o café enquanto ela coava-o...
serviu-me... e permaneceu quieta.
sentamos de frente uma para a outra...
e a fumaça que fumegava do bule espalhou-se em olor!
e era um aroma de amores! de saudades!
e espalhou-se sobre o pequeno mundo à nossa volta!
e ela convidou-me a ir à janela...
e havia, então, passantes!
parados ao pé da sua morada!
e todos com "carinhas" de criancinhas!
com narizinhos para cima a cantarem músicas do céu!
olhei para ela! perplexa eu!
e ela? ... não parecia-me nada surpresa...
disse-me ela que era sempre assim...
ela sempre escutava musiquinhas do céu...
quando coava um café naquele bule redondinho.
pediu-me que eu tomasse o meu café...
quentes... o café e a solidão sua em seu olhar.
e era doce... o café e o seu olhar.
daquelas gotinhas "toin toin" que pingaram para dentro do bule redondinho...
enquanto ela coava o café para mim...
lembram-se, meus senhores?
pois ela disse-me ainda que a fumaça que fumegava do bule redondinho...
era do amor... que ela espalhava sobre o mundo.
e o café era simbólico... embora estivesse eu a saboreá-lo!
disse-me ela ainda que nem todas as pessoas percebiam o café...
nem o bule redondinho, nem o olor...
tampouco o seu casulo... e suas tantas teias...
e ela abraçou-me... demoradamente...
e eu senti, finalmente... uma paz imensurável.
Karla Mello
20 de Abril de 2013