Moda de Saudade e de Viola


Sanfoneiro segura o fole
Violeiro pode a viola afinar
Esperem e tomem um gole
Tenho uma história pra contar
Antes da festa começar

Foi num mês de junho
Que pra fazenda fomos levar
Todo sábado uma atração
Para todos alegrar
E a moda de viola
Passamos a apresentar

Então no primeiro dia
Que a moda lá tocou
A gente tanto se envolveu
Que até se emocionou
E a moda de viola
A todos encantou

A emoção foi grande
Quando ela começou
Quase me vi chorar
Junto com a dona do lugar
Por seu velho pai lembrar

Sanfoneiro puxa o fole
Pra viola acompanhar
Tem direito a outro gole
Por que está na hora
Da festa começar

A fogueira já acesa
É a alegria da moçada
Tem batata doce assada
E quentão pra se tomar
Cuidado com a língua moço
Você pode se queimar

A cantiga da viola
Vamos nós acompanhar
E as pessoas do lugar
Todas juntas vão cantar

Tem musicas marcantes
Que me trazem emoção
E muito me faz lembrar
E o coração apertar
São momentos importantes
Que comigo sempre estão

Sanfoneiro puxa o fole
Pra viola acompanhar
Tem direito a outro gole
Por que está na hora
Da festa continuar

Tinha uma Casinha Branca
Pra Dama de Vermelho morar
Depois que da Boate Azul
Dela foi se ausentar

Na Colcha de Retalhos
Juntada de pedaço em pedaço
Um Fio de Cabelo comprido
Nela se grudou
Foi lembrança de um amor
Que pra sempre ali ficou

Lá não teve só festa
Teve a Tristeza do Jeca
Que contava seu sofrer
E muito da sua dor

Lembro da Cabocla Tereza
Que por um caboclo danado
Ela se apaixonou
O Reino Encantado abandonou
E com dois estalos certeiros
Sua vida levou

Chico Mineiro chegou
Mas logo se ausentou
Com o Menino da Porteira
Pro céu Deus levou

O outro também apareceu
Chico Mulato era o festeiro
Caboclo bom, violeiro
Largou então de cantar
Querendo só se matar
Mas foi lá pra visitar

Que barulho é esse?
Alguém perguntou
É a Mula Preta dotô
Com sete palmos de altura
Que junto com o herói
Boi Soberano chegou

Também veio a Vaca Estrela
Acompanhada do Boi Fubá
Perto da fogueira encostou
Êeeê Vaca Estrela.
Ôooô Boi Fubá

Outro barulho se fez notar
Mas este não assustou
Todo mundo gostou
É o inhambuchitão e o chororó,
Que uma sinfonia tocou

O João de Barro apaixonado
Um instante ali ficou
A sanfona escutou
Depois se arrependeu

Quando voltou pra casa
Logo desconfiou
Que a sua amada
Com outro namorou

Quem Será Seu Outro Amor?
Por que me traiu desse jeito?
Pois a casa toda fechou
E presa sua amada deixou
E pra sempre abandonou
Foi embora pro Rancho Fundo
Bem pra lá do fim do mundo

Lá também chegou
E a todos entristeceu
O filho que seu velho pai
Da sua casa expulsou
E um Couro de Boi curtido
A ele entregou

Mas para a sua surpresa
Com a metade daquele couro
Seu filho logo chegou
E aquela metade
Que ganhou do avô
Ao seu pai presenteou

A moda de viola
E a música raiz
Não conta nenhuma história
Que faça a gente feliz

É encanto e desencanto
É amor e desamor
Não tem graça é só desgraça
Na vida de um caipira cantador

Nessa longa Estrada da Vida
Muito temos a contar
Triste ou feliz
Não se pode parar
Tem sempre que continuar

Então vamos na Chalana
No rio navegar
Mas como aqui rio mais não há
Podemos passear
No lago Corumbá

Pra apreciar com emoção
O Luar do Sertão
Que me mata de saudade
E aperta o coração

E a parte mais feliz
Da moda de viola
É quando a gente diz
E começa a contar
Os causos que acontecem
Aqui neste lugar

Saudade da Minha Terra
Todos gostam de cantar
A moda de viola
Não deve nunca parar
Ainda Ontem Chorei de Saudade
Do Luar do meu Sertão
Sinto a Tristeza do Jeca
Doendo no meu coração

É que já está na hora
Da moda encerrar
Sábado a turma volta
Pra de novo cantar

Sanfoneiro puxa o fole
Pra viola acompanhar
Tem direito ao último gole
Por que está na hora
Da festa encerrar

Mas antes de acabar
E voltarem pra cidade
Toque uma saideira
Pra lembrar com saudade
E essa história terminar

Sanfoneiro puxa o fole
Pra viola acompanhar
Agradeço o carinho
Da Dama de Vermelho
Todo sábado me ofertar

A Boate azul comigo cantar
O Couro de Boi me emocionar
Galopeira o fôlego testar
E outras músicas acompanhar

Ainda Ontem Chorei de Saudade
Só da moda me lembrar
Vida a fora vou levar
O carinho de vocês
E a saudade desse lugar


Minha homenagem ao sanfoneiro e violeiros que todo sábado, desde junho de 2003 levam à Fazenda Hotel Raizama, em Alexânia, GO a moda de viola, pura música raiz que toca sempre o nosso coração.