Meu Grande Amigo
Quando você percebe o mundo já mudou
Então está tudo tão estranho
Aquelas mesmas ruas de tempos atrás
Parecem tão diferentes e ameaçadoras
As pessoas que você um dia conheceu
Não lembram mais do seu rosto
Neste ciclo que não pode ser interrompido
Tudo muda de lugar mais uma vez
Suas memórias vão se apagando
Lentamente outros rostos ocupam
O lugar que fora de antigos amigos
Quem é você no meio dessa loucura?
Talvez um alguém que insiste em viver
Uma pessoa que tem imagens vívidas
De um passado não tão distante assim
Um lugar onde tudo ainda não havia mudado
Ou talvez a mudança fosse menos dolorosa
Eram dias dourados do seu passado
Lá seus olhos conseguiam sorrir
Mas agora eles estão aterrorizados
Naquela velha esquina você ficava sentado
Brincando com seus amigos da escola
Mas ela já não existe mais
Nem os laços que ali foram criados
Tudo não passa de uma foto cinza
Esquecida num velho álbum de fotos
Nem mesmo aquele "você" existe
Pois agora é um adulto
Sem tempo para ser um humano
Vemos rugas em nossos rostos
Um sinal de que a juventude se foi
As tardes não tem mais aquele sabor
Já não possuem o mesmo gosto de antes
Sim, estamos ficando velhos...
Não temos mais as noites de outros tempos
E você se pergunta onde estão os risos
Que a muito tempo não ouvimos mais
Mas estamos perdendo nosso tempo
Para sermos máquinas a vapor
Menos humanos e mais objetos
Esse é o destino, meu Amigo
Nosso destino...
Você se pergunta onde está aquela carta
Que um dia escreveram para você
Mas hoje ela é apenas um papel amarelado
O que está escrito lá são palavras
Nada mais que promessas inexistentes
Um sentimento tão inocente quanto uma criança
Lembranças de um dia em que você era alguém
Se pergunte: será que ela está viva?
Você não sabe nada sobre ninguém
Nem sobre si
Mais um pôr do sol vindo
Apenas mais alguns instantes
De sua breve existência
Vemos rugas em nossos rostos
Um sinal de que a juventude se foi
As tardes não tem mais aquele sabor
Já não possuem o mesmo gosto de antes
Sim, estamos ficando velhos...
Num velho rádio toca uma música familiar
Acordes de um tempo remoto
Uma voz que lhe serviu de trilha
Enquanto caminhava naquelas alamedas
Percebemos quanto tempo passou
Desde aqueles dias até hoje
Já não lembramos mais nada
Fotos tão antigas nos fazem pensar
No que nos transformamos hoje
Amigo, isso é o que chamam de vida
Ouça o dedilhar do violão
Calmamente alguém canta
Aquela canção que te fez sonhar
Uma melodia simples e arrastada
Mas que expressava o que sentia
Melhor do que qualquer joguete de palavras
Sinta o fluxo de cada nota
Deixe sentir cada um dos acordes
Enquanto aquela voz ecoa
Em todos os espaços de sua mente
Sim meu Amigo, estamos morrendo
A cada novo nascer do sol, morremos
Amigo, meu grande Amigo
Isso é o que chamam de vida...