AMARGO REGRESSO

Adeus velha Bahia,

a minha benção que estou de partida

trazendo no canto de João Gilberto

uma lágrima que emerge

e multiplica no meu rosto,

enquanto a imensidão da estrada,

negra serpente,

vai deixando para trás

a sua paisagem

litoral, rios e montanhas,

até chegar à caatinga

que não vejo a hora

de inundar com minhas lágrimas.

Ah querida Bahia

só agora me apercebo

quanto dói deixar o seu ventre

areia e sol de suas praias

mar azul, quente e gostoso

doce indolência,

e ócio necessário

para um povo que trabalha

mas não vive

pro trabalho.

Ah baianas descontraídas,

carinhosas, almas puras

que se doam com chamego,

voz macia e dengosa

com gostosas gargalhadas,

quanta ternura!

Ah dona Preta

da barraca de Piatã

que nos reza, abençoa

e por via das dúvidas,

também nos abastece

de cerva, cipó-de-milhome

e acarajé.

Ah velha Bahia misteriosa

de todos os santos,

de todos os prazeres

e sortilégios;

com a proteção de mãe Iemanjá

e do Senhor do Bonfim

juro que ainda volto

para os encantos de sua magia

como na canção do Gil

tocada agora no radio

do meu carro veloz.

Fev. 1984