Sobre o Desenho na Chuva...
E eu queria o colo da minha mãe.
Há uma vidraça entre mim e ela...
E eu não consigo transpô-la.
Mas sei que ela sim...
Coisinhas de anjos.
Há dias em que eu sinto-me tão só...
Não só de gente... nem de amores.
Sinto-me só de mim.
E tantas vezes enfio eu a minha mão...
Em minha própria garganta!
Para arrancar-me o choro que não vem...
Não vem porque não adianta.
E ele sabe. E por isso, não vem.
Mas decepa-me os pensamentos...
E a minha cabeça dói... assim como a saudade.
Prefiro então, tantas vezes, arrancá-lo de mim.
Respiro... e choro. E vivo.
Sou muito quieta na minha solidão...
Saio pouco e não me afeiçoo à nenhuma aglomeração.
Gosto dos encontros... eles são únicos.
Mas nenhuns encontros verdadeiros fazem-se em aglomeração.
No barulho... não posso sentir-me.
Não posso sentir a saudade da minha mãe.
Não posso sentí-la.
Olho para o céu e sei que ele mente.
O céu é algo que criamos nós para nos acalentar...
E termos um ponto para mirarmos... e não nos perdermos.
Mas o céu não é no céu... disso eu sei.
É em qualquer outra dimensão. Menos nas nuvenzinhas.
E a imensidão do infinito é tão infinita quanto eu sei que eu sou.
Sou eterna. Tu também és, mamãe.
Lembro-me. E vivo com alegria por um breve instante.
O teu belo sorriso transformou-se em primavera...
Tulipas brancas... Gostavas das Tulipas!
E o teu olhar... são gotas de chuva a abençoar-me.
A chuva aqui é muito fria...
Mas gosto de ir para a chuva quando lembro-me do teu olhar...
E banho-me... e visto-me do teu olhar.
E tudo o que nos envolve o toque é tão efêmero...
Inclusive a chuva.
Saudades da tua voz... brisa mansinha.
E queria eu voltar à ser menina...
Para que tu pudesses me embalar novamente...
Nessa solidão tão imensa quanto o infinito, casa tua.
Porque quando morremos... tudo e todos esvaem-se conosco...
Viver... é um imenso desenho na chuva.
Karla Mello
23 de Março de 2013