Da Janela
 
 
Um dia abri a janela e ouvi um pássaro
Não sabia de qual lado vinha aquele som
Despertar d’alvorada, alguém me chama
Clamor de esperança e fim de um látego
Que corta a alma d’ um moço sem dom,
Mas que ouve a vida que lhe reclama.
 
Um dia abri a janela e vi o carro de boi
Suas rodas gemiam; e cantavam melodia
Que só o boiadeiro conhece; e canta junto:
Heia boi! Rá! Feliz o boiadeiro ria e se foi
E eu chorei... porque era lindo o que via
E eu hoje choro pelo boi que é defunto!
 
Um dia abri a janela e escutei o galo cantar
Era madrugada, e o galo cantava cedinho
Quando Jesus nasceu o galo cantou bem alto!
Pulei da cama, tomei café e rezei no altar
Já era hora da professora cruzar o caminho
Que a levava a escola no chão sem asfalto.
 
Às vezes se é surdo; não se quer escutar
De que adianta sonhar; morrer adiante
Diante de tanta vida por viver em nada
O que é nada está entre o céu e o mar
Está na ausência da amiga, da amante
É fim do que se busca, é fim de jornada
 
Mas, um dia, ao abrir a janela fiquei triste
Pois o que ouvia, depois não mais escutei
Estava longe de onde as coisas aconteciam
Hoje galo não canta; boiadeiro não existe
Tudo que vivi acabou; acaba porque é da lei
Vivemos n’um sonho que nos fantasiam.
 
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 16/03/2013
Reeditado em 04/03/2014
Código do texto: T4191788
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