LEMBRANÇAS
Ainda hoje me recordo das férias no interior,
em casa da tia Maria.
É só fechar os olhos e lembrar
daquela janela de onde eu via o sol aparecer
por detrás da montanha, todas as manhãs;
Da grama da frente da casa ainda salpicada
do orvalho da noite, molhando nossos pés;
Do barulho de água vindo do quintal,
a correr incessantemente pela bica
que entornava no tanque, um grosso tronco
de madeira entalhada, escorrendo para o córrego
que passava lá em baixo,
cheio de piabas e lambaris
que a gente gostava de pescar;
Da minha tia andando no terreiro
com dezenas de galinhas atrás,
bicando milhos das espigas
que pacientemente ela debulhava;
Dos brados do tio Narciso p'ra espantar
a passarinhada que atacava as uvas
daquela grande parreira verdejante;
Das laranjeiras em flor; da ameixeira repleta
de frutos amarelos e daqueles pés de pêssego,
minha grande paixão!
Mais adiante, já na curva da estrada,
os morangos silvestres doces como mel.
Na frente da casa, as roseiras em flor
colorindo e perfumando sem igual.
O cheirinho do café vindo da cozinha
e aqueles bolinhos...
Ai meu Deus, tempo bom!
Hoje mais nada existe lá.
As pessoas se foram. Assim como a casa,
as flores, as frutas e tudo mais.
Coisas que a vida não conseguiu guardar.
Mas essas lembranças ficaram para sempre
e nem o tempo
e nem a vida
hão de conseguir apagar!