Eterna Lua
Eterna Lua
Céu, terra, mar,
Imensidão que meus olhos buscam
Que minha alma aspira
Buscando numa ânsia desesperada
Nessa noite que tento reconciliar o sono
Mas que só reviro na cama
A lua ilumina a janela
O ar da noite perfuma o quarto
Levanto... Abro as vidraças
O quintal, as árvores parecem de prata,
Há uma doçura paradisíaca
Tudo se apresenta como uma paisagem de sonho
Nuvens de sereno flutuam
A brisa é fria... Suave...
Tudo inebria nessa noite mágica
O luar traz em seus raios
O perfume do passado
Pois a muito anda por esses céus
Os milhares de anos... Quanta coisa já viu
E em seus raios misteriosos
Descortina-se como uma viagem ao passado
Fotos, cenas, amores que há tempos viveram,
Que sob esses mesmos raios
Amaram-se e se beijaram
Tempos que já vão longe
Que ficou apagado pelos anos
Mas que revive nessa noite de lua
Quando seus raios caem sobre os jardins,
Sobre os rios, banhando e transformando,
Essas paisagens em muitos jardins
De épocas diferentes trazendo o passado
Em seu manto prateado
O luar flutua nada se ouve...
Mas de repente o ruído de um grilo
Movimenta a sombra noturna
Como uma nota melancólica
Emocionando o silêncio
Afugentando as sombras do passado remoto
E trazendo sombras de um passado presente
Então tudo para...
O ruído das folhas sussurra ao vento
O odor da seiva que exala das ervas
As asas invisíveis que vibram no ar
Os sons límpidos, os trilos,
O rouxinol, a flauta, tudo emudece,
Só o hino misterioso, o passado,
Que nessa noite de primavera
Ouve-se com notas melodiosas
As quais suspensas no ar caem
Num murmúrio de canções
E se fundem voluptuosamente
Nos raios da lua
E só nessa acalmia
Sinto o mistério da noite
A embriaguez das estrelas
O turbilhão de imagens e sons
E revejo um passado
Ouço vozes... Fecho os olhos
E numa súplica
Peço a esse luar se extinguir
E deixar-me ao menos
Esquecer esse passado...
E um pouco dormir.
Escrito em 1970
Do meu livro: O milagre da Vida