POEMINHA BESTA
Casa grande sem janelas,
repleta de escadarias.
Tantas paredes vazias
e meu olho em sentinela
busca o olhar da donzela
no quadro jamais pintado.
Vê-se o vazio manchado
de tinta branca e limpeza
dissimulando a beleza
de quem jaz emparedado.
Casa grande sem saída,
que não abriga ninguém.
só tem a mim por refém
(esta visagem sem vida).
Na sala descolorida
vê-se o espelho sem fundo
deste meu olho imundo
apodrecendo a paisagem
de deusas com molecagem
emparedando meu mundo.
Casa grande, grande lança
a traspassar meu sorriso,
casa sem teto e sem piso
onde se perde em andança.
Casa, teu nome é lembrança
da minha gris fealdade,
resto da feliz cidade,
do meu zanzar de menino.
Casa, teu nome é destino.
Casa, teu nome é saudade.