Cama Vazia
O copo na pia, ainda com água.
E ela no quarto, arrumando gavetas.
A cama vazia. Arrumada, mas vazia.
Depois volta à pia. Esvazia o copo.
Já sei que essa sede vai e volta.
Depois volta ao quarto.
Passa pela sala. Umas revistas sobre a mesinha.
Talvez com poeira. Mas quem é que viria?
Chega no quarto. A cama vazia.
Não adiantava olhar pro lado. Ninguém haveria.
Mas também deixar a casa assim, suja?
Não deveria. Não vou olhar de novo... pra cama vazia.
Calma, alguém lhe diria.
Iria procurar um doutor em psicologia.
Era o que devia. No elevador lembraria
da cama vazia. Mas preferiu chorar primeiro.
E chorou muito mais do que podia.
Ficou prostrada e afastada,
mas não longe da cama vazia.
Não precisaria ir ao trabalho nesses dias.
E o que faria? A gente tem sempre o que fazer,
mercado, remédios a comprar, contas a pagar.
Escrever, não. Não escreveria.
Por que a porra do título, qual seria... ?