Viagem
Toda viagem tem a partida
Um adeus
Que ainda que breve
É aceno melancólico,
Um olhar oblíquo procurando
O último fiapo de horizonte
ou esperança
Toda viagem em idas e
vindas
Trazemos na bagagem
A alma embalada de
cheiros, sentimentos, ressentimentos,
delicadezas, brutalidades
E de um inexplicabilidade intensa
Pois a alma que parte,
Não é a mesma alma que regressa
Há um acréscimo
Como nas margens dos rios,
Dos mares,
Segredos afloram,
Tristezas dissipam
Felicidades aportam
Sem amarras num cais
flutuante
Distante da terra
E dos homens.
Em cada viagem
Olho para minha bagagem
E fico a pensar
No que se resume
A existência humana
A passagem de uma criatura
Perante o criador
Ou perante sua fé ímpia
Em nada
Ou em absolutamente tudo
Que seja palpável
e sólido
como as incertezas da partida
Nessa viagem
Levo uma cola misteriosa
Para colar cacos de espíritos
E tentar resgatar o
Gosto da vida,
A essência da alegria ou
A misericordiosa paciência
De viver mais um dia.