Testemunho de um bêbado
A luz sobre as mesas
Eu sinto na vida.
As sombras acesas
Eu vejo em saída.
Cachaça, cachaça...
As "damas-perfumes".
Fumaça, fumaça...
Casais e ciúmes.
Oh cana, tu uivas
Nos meus mil neurônios!
E as loiras... E as ruivas
São "anjos-demônios"!
Só tinha um amor:
A cana mais pura...
Porém um cantor
Do amor fez loucura...
Sentado e vencido
Cantava seu rock
Aquele cupido
Isento de toque.
Foi quando avistei
Bem perto do palco
Um ser que pensei
Ter pele de talco.
Branquinha nervosa:
Um doce de abelha.
A face já rosa
Corou p'ra vermelha.
Pensei: "já dormi"...
Joguei logo o queijo...
E, quando me vi,
Já dava-lhe um beijo...
Não era cachaça:
Dois lábios ardentes!
Enfim uma graça
Senti d'entre os dentes!
E tudo esqueci...
E tudo sumiu...
E tudo vivi...
E tudo se abriu...
Doçuras tão brutas...
Perdi o chapéu!
Já tive mil putas:
Só ela foi céu...
Bebidas, cigarros...
E nada valeu!
Mil tosses, escarros:
Só ela foi céu...
Confesso: somente
Um único beijo.
Assim... De repente...
Qual fungo no queijo.
E a luz sobre a mesa
Tocou minha mão.
E aquela princesa
Deixou-me sem chão...
A dama vazou
Bem antes das sete.
E só me restou
"Prazer-garçonete"...
E nunca mais vi
Aquela princesa
Com quem eu senti
A ardência da mesa...
E quanto mais vejo
Madame qualquer,
Eu lembro o tal beijo
Daquela mulher...
Em toda branquinha
Eu vejo seu rosto.
Em toda mocinha
Eu sinto seu gosto...
E vivo sorrindo...
Sozinho no bar!
Lembrando o ser lindo
Que faz meu luar...
A luz sobre as mesas
Eu sinto na vida.
As sombras acesas
Eu vejo em saída.
01/02/2013