Memórias e nuvens
Mais uma página branca,
alva
A cuspir-me na cara toda
a iniqüidade do mundo
Se sou livre
Sou culpada ou inocente .
se sou ou não sou livre,
sou sempre inocente
Passo num flash
de sujeito à objeto
E me coisifico apesar
de feições humanas
E prostada na reles aparência,
o espelho me revela
professoral, séria e até sisuda
e, principalmente circunspecta
Procuro só com os olhos
alguma imperfeição nítida
no papel arrogante
E descubro uma pequena nódoa
Aqui bem no meio da página
A me fazer lembrar e
imaginar
as nuvens e os bichos e as coisas que saiam
diretamente do formato delas...
a nuvem-sorvete
é gelada e saborosa,
a nuvem-urso
dorme ainda comigo
é branda,
branca
e pura sem
medo de amanhã
pois o dia já teria raiado