Olhar de criança
Olhar de criança
maria da graça almeida
O riacho era o mar que então eu conhecia.
na pueril fantasia sob a ponte o mar corria
e para longe, ondulante, se ia...
Dada pouca a idade, julgava que na cidade,
o mar que me atraía, nalguma praça, residia...
Sobre a ponte, debruçada, me enamorava ao vislumbrar
a corrida do meu mar ao encontro de seu lar...
Quanto tempo imaginei que aquelas águas turvas,
ora retas, ora curvas fossem o verdadeiro mar!
Quantas vezes eu julguei ouvir a voz do bambual
a chorar tristonhos ais, desejando suas varas
longilíneas e em paz, nele um dia lançar.
Hoje bem que eu queria meu olhar ainda infante
a admirar confiante as águas daquele rio,
para assim tal como antes, outra vez depositar
a crença que aquele fio, deveras fosse o mar,
que de mim nasceu bem perto, para esperto me encantar.