AMOR ANTIGO

O amor antigo vive de si mesmo,

Não de cultivo alheio ou de presença.

Nada exige, nem pede. Nada espera,

Mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,

Feitas de sofrimento e de beleza.

Por aquelas mergulha no infinito,

E por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona

Aquilo que foi grande e deslumbrante,

O antigo amor, porém, nunca fenece

E a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.

Mais triste? Não. Ele venceu a dor,

E resplandece no seu canto obscuro,

Tanto mais velho quanto mais amo

Um belo poema.

Carlos Drummond de Andrade
Enviado por ousada em 21/01/2013
Reeditado em 21/01/2013
Código do texto: T4096953
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