Registros

Não há beleza.

Existe apenas um céu nublado.

Promessas de chuva.

Não há saudade.

Existe apenas a lembrança

Como as vagas do mar.

A bruma do mar.

A espumar os tempos findos

Estirados na areia.

Não há diálogo.

Existem apenas monólogos

Simultâneos, paralelos e incidentais.

E, principalmente acidentais.

O objeto se imiscui com o sujeito.

O sujeito se dilui na paisagem.

O contexto escorre pelo ralo

Do esquecimento.

Adjetivos tornam-se substâncias.

E, as substâncias não estão em si.

E há um sentimento doído

de autopiedade e solidão.

Não beleza.

A anorexia repugnante.

De faces pálidas e secas.

O mármore metamórfico

da estética contemporânea.

Somos contidos.

Pela ausência da beleza.

Somos esquecidos.

Pela ausência da saudade.

Somos incomunicáveis.

Pela ausência de diálogos.

Então, matamos.

Contundentemente.

Morremos.

Infalivelmente.

Criamos conflitos, guerrilhas,

batalhas e brigas.

Lutas idílicas com os ventos

com a história.

Não importam os motivos.

Matamos e morremos.

E, o tempo nos fecha

Silenciosamente por entre as

páginas de registros comuns

Não me conformo:

matamos a beleza.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 17/01/2013
Reeditado em 17/01/2013
Código do texto: T4089860
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