PRIMEIRA VEZ
Muitas pessoas não percebem
a graça que transparece à frente,
ouro abstrato reluzindo
sem se apaixonarem pelo brilho.
Meu pai era um menino no homem,
tinha a pureza de um.
Vítima de duas falências,
por não aceitar haver no outro
mal algum.
Sua risada vinha da alma,
ressoava horizonte afora,
ria de quase nada
porque era despojado de tudo.
Eu não soube diminuir a distância,
criticava sua simplicidade,
insensivelmente podando
as asas desse pássaro.
Ainda lastimo por lembrar
do seu carinho disfarçado
que eu não soube perceber.
Dizem que só o tempo cura,
mentira,
apenas seca o pranto.
O tempo não me fez esquecer
dos seus últimos suspiros em meus braços;
tampouco daquela primeira vez,
em que com ternura acariciei-lhe a face,
enlacei suas mãos e o beijei
ali dentro do caixão.
Pela primeira vez,
tarde demais!