NEVERLAND
Quando o derradeiro circo passou em minha cidade
Todas as apresentações tinham tom de despedida.
Era como ver o último mamute da terra
Arrastando toneladas de história para o cemitério.
Apenas as crianças não adivinhavam seu fim
E riam gostoso, indiferentes aos furos na lona,
Gritavam de medo do leão banguela e decrépito,
Embasbacavam com a trapezista de roupa remendada.
Ah! Que inveja destes pequeninos...
Nem desconfiavam do palhaço alcoólatra e ranzinza.
-Ao seus olhos todos eram deidades pitorescas-
A nós, adultos, só restava a daltônica verdade cor de sépia
Que tentamos colorir com drogas, fantasias ou religiões.
- Uma aquarela monocromática sem o pincel mágico da inocência-
Adolescente, eu queria fugir montado neste mamute,
Mas a TV descoloriu minha vida antes da internet.