NEVERLAND

Quando o derradeiro circo passou em minha cidade

Todas as apresentações tinham tom de despedida.

Era como ver o último mamute da terra

Arrastando toneladas de história para o cemitério.

Apenas as crianças não adivinhavam seu fim

E riam gostoso, indiferentes aos furos na lona,

Gritavam de medo do leão banguela e decrépito,

Embasbacavam com a trapezista de roupa remendada.

Ah! Que inveja destes pequeninos...

Nem desconfiavam do palhaço alcoólatra e ranzinza.

-Ao seus olhos todos eram deidades pitorescas-

A nós, adultos, só restava a daltônica verdade cor de sépia

Que tentamos colorir com drogas, fantasias ou religiões.

- Uma aquarela monocromática sem o pincel mágico da inocência-

Adolescente, eu queria fugir montado neste mamute,

Mas a TV descoloriu minha vida antes da internet.

Saulo Palemor
Enviado por Saulo Palemor em 13/01/2013
Código do texto: T4083164
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