Velhice
Adivinhas as falas e os scripts dos personagens
Dos atores e dos sujeitos
E memoriza cada posição dos objetos.
Os adjetivos ornam as situações como pérolas
Que se desenvolvem do grão de areia
para refletir a luz do sol.
Adivinhas as intenções.
Lês almas como páginas de livro antigo.
Decifras parábolas e metáforas
com a precisão dos geômetras
Arquitetas o arco do tempo
no silêncio das ampulhetas imaginárias.
O corpo já dá sinal de falência,
Porém a mente nunca fora tão lúcida,
A visão nunca fora tão nítida e atenta...
A preciosa percepção nos brinda
Com a decrepitude do reumatismo.
Há lacunas preenchidas completamente,
Residem em lógicas requintadas
Em esquemas translúcidos,
Insípidos e transparentes.
O tempo nos tatua
Nos distingue,
Nos macula.
E nos impinge:
Sejai paciente.
Sejai soberano.
E resignado com o
destino tramado pelas moiras.
No fio dourado do sol.
No fio corrido do horizonte.
No fio prateado da lua.
E nas lágrimas da manhã.
Enfim, eis a velhice.