Dos meus rojões...
mocinha sonhadora
era eu há algum tempo
num tempo perdido em mim.
e sempre gostei muito
de atirar rojões ao céu
na passagem de um ano à outro.
e pensava eu que neles
iriam todas as minhas lágrimas
todos os meus erros
que não podia eu mais consertar
que tola eu...
que lindamente tola eu.
esquecia-me que sempre há um amanhã
independente do ano acabar-se ou não
e os nossos erros
ah... estão sempre a espreitar-nos
e querem alguma coisa de nós...
não chamaria eu de reparação.
o "trem da vida" é veloz...
não espera a reparação.
chamaria eu de consequência.
é o mais apropriado termo
para quem tem apenas o amor como religião.
ainda solto rojões ao céu quando posso
hoje, mentalizo apenas o amor
como se estivesse eu na calda daquelas luzes todas
a espalhar o meu estranho e equivocado amor
e crença nas pessoas e no mundo.
e crença em mim mesma...
no que posso ainda transformar em mim.
e, talvez, chegar pertinho das mãos da minha mãezinha...
e ela, acariciar-me os cabelos como outrora.
chegar pertinho do dedo de Deus, talvez...
não um dedo que aponta-me à mim e julga-me.
mas um dedo que toca a pontinha do meu nariz
tal criança Sua que sou...
e que me diz para eu continuar sempre...
a espalhar, da melhor forma que possa eu
o meu estranho e equivocado amor.
é como eu sei amar...
é a melhor forma do meu imperfeito amor.
há anos, acrescentei mais um pensamento
nos meus rojões que aponto ao céu...
são bênçãos de mãe minhas
aos meus dois filhinhos distantes.
e que essas luzes coloridas todas!
enfeitem as suas vidas da Graça de Deus.
e que possam eles sentir...
como é colorido o meu amor...
e como queima...
a minha saudade infinita.
e o passar de um ano para o outro...
apenas faz de mim uma querência
de que o tempo... o tempo...
tenha-me compaixão
e leve-me de volta a eles
todas as vezes que eu neles pensar.
e estarei eu, então...
junto a eles por todos os meus segundos de vida.
haja que não há vida em mim...
sem os meus dois passarinhos...
eu... mãe e ninho vazio.
e os meus rojões, hoje, não chamam-se mais sonhos...
nem perdões que não dei e que não deram-me.
hoje o nomeei-os de saudades...
imperfeito amor meu.
Karla Mello
27 de Dezembro de 2012