LEMBRANÇAS

Eu deixei tombar uma garrafa de vinho

No carpete azul uma mancha desenha

Um cacho de uva que se forma sozinho

Fazendo com que lembrança eu tenha

Na minha infância o inverno era rigoroso

Nossa modesta casa margeava um rio

O meu pai preparava um suco gostoso

Água, açúcar e vinho para espantar o frio

Então para disfarçar aquela vida dura

Com onze filhos criados com dificuldade

Ele esquentava o peito com cachaça pura

Assim o meu pai esquecia a realidade

Naquele tempo além do frio, havia a chuva

São Paulo era chamado de cidade da garoa

Ficávamos junto iguais um cacho de uva

Chuva e calor humano conviviam numa boa

Memória de longes mensagens me traga

Com lembranças do doce sabor do vinho

Que esquenta a alma e também embriaga

Sigo sozinho por esse doce caminho