Olhos azuis
Quem navegaria no azul de teus olhos
E encontraria um porto seguro?
Mil âncoras esfaceladas
encontrei no fundo.
E não foi tudo.
Lá, bem no fundo de teus olhos ...
Lágrimas que jamais secaram
Ruminações sobre a morte e vingança
E uma tristeza intacta e indelével.
Com rastros sangrentos de rejeição
E a torpeza que contaminava suas palavras,
Tornava compulsivos seus gestos,
E um esgar funesto desenhava seu sorriso
Construído sobre um misto
de ironia e dor.
Quem mergulharia nesse mar profundo e
inesgotável ...
De encantos, mistérios e desencontros...
Seria um suicida?
Um sobrevivente
ou apenas mais um náufrago.
O tempo passou
O azul se tornou cinza
Quase ardósia
Fostes um garoto bonito,
Um homem bonito
e, ainda hoje
revela-se ser um senhor bonito
coroado no alto de seus cabelos brancos
e gestos educados.
E, andas com o mesmo relógio de bolso...
As horas brincaram com todos
Como gatos e ratos
Como presa e predador
Somente alguns sobreviveram
à intensidade da dor
ou ao destino.
Caminho flanando pelas memórias
E quando lhe encontro subitamente
No acaso do ocaso
Descubro enfim que o entardecer pode
se travestir de azul.