O TREM DA SAUDADE
Ói o trem!
Já não é o mesmo
Maria Fumaça
que de longe roncava
pedindo passagem
abrindo caminho
chegando de manso
ao destino de alguns
passageiros queridos
de olhar reluzente
esperando ansiosos
a chegada dos seus
amores queridos
na velha estação.
Ói o trem!
'Café com pão, bolacha não'
cantava nos trilhos
zunia nos ouvidos
do passante assustado
do maquinista orgulhoso
do passageiro disperso
da criança avistando
da porta da casa
o anjo de ferro
que passava correndo
tocando trombetas
chamando os que sabem
da hora do trem.
Ói o trem!
Pirulito apressado
nem doce ou salgado
vem sempre lotado
às sete ele passa
dá adeus às meninas
na estação circulando
em busca do amor
os meninos paquerando
de braços e abraços
num romance total
beijos e sonhos
de amor fraternal.
Ói o trem!
Marta Rocha chamado
vagões de luxo
cadeiras numeradas
lá vem deslizando
como plumas voando
as nuvens formando
no céu e no ar
de azul dá o tom
de verde a esperança
procurando um espaço
onde a cinza jogar
desse velho neón.
Ói o trem!
Lobisomem da noite
sorrateiro chegava
não assustava ninguém
pois as garras não tinha
seu destino é a paz
e a saudade das horas
que varava o sertão
pra chegar bem depressa
no abrigo da estação
e repousar finalmente
o seu coração.
Ói o trem!
é a vez do Mochila
de carga pesada
qual cruz em seus ombros
de bagagem aborrotado
chorando e sorrindo
com o peso do saco
sacolejando nos trilhos
ficando e partindo
levando uns poucos
vagões de pasageiro
a finalizar seu destino.
Ói, ói o trem!
Das sete e das onze
das doze e zero horas
quase não trilha
a velha ferrovia
de leste a oeste
de norte a sul
já não chama a atenção
dos novos transeuntes
mas fica a saudade
do alegre maquinista
da antiga poesia
que apenas sei de cor
um velho refrão:
"café com pão, bolacha não".