Minha infância na roça.
Ai! Que saudades do lampião a querosene,
Das tardes canoras do meu sertão.
Dos passeios pelas roças de café,
Vendo o sabia beliscando o mamão.
O amanhecer na roça era gostoso de ver
Ar puro, cheiro de relva, neblina na baixada,
Gado bom de leite, a ordenha quente pra beber,
O dia mal clareava eu ouvia o cantar da passarada.
Á aurora se desfazia dando lugar ao sol quente
No espigão um pé de ipê jazia florido e solene,
O vovô e o papai saiam cedo, sempre contentes,
Cultivam a mãe terra que nos dava o sustento.
A mamãe lavava roupa na vasca de sovar
A vovó compenetrada cuidava no fogão,
A lenha bem sequinha, lingüiça de varal,
Da horta a salada, nas panelas arroz e feijão.
Dois caldeirões bem recheados e café
Água fresca, pão sovado e requeijão,
Eu levava pro papai e o vovô lá no roçado
De chapéu na mão agradeciam à refeição.
Tiravam um cochilo no ranchinho de sapé,
Para distrair assoviavam uma linda canção
Trabalhavam duro, porem com satisfação,
Fim do dia, dever cumprido e paz no coração.
À noitinha já descansados e bem alimentados,
Acomodavam-se num canto sobre duas cadeiras.
Uma viola e um violão, e lindos ponteados,
E a luz do lampião realçava seus cabelos prateados.
Daqueles bons tempos ainda tenho saudade
Hoje também sou feliz morando na cidade
Mas guardo na lembrança o fogão a lenha
O vovô a vovó e o papai, minha mãe ainda vive,
Junto dela nossos corações suspiram muitos ais,
São de saudades daqueles tempos que não volta mais.