Parece que  tudo me foi tomado
Tudo..

Até o fundo...

E isto não digo por desejos de acúmulos
Digo por mirar-me .

Porque eu não era esta...
Meu rosto abrigava risos 
Meus olhos ,paraísos...


Decerto que sempre fui meio bicho,
Meio monja
Ou só um resquício...

Mas esta cor esquecida
Mesmo que esmaecida, a mim preservava...

Este meu passo de agora fere-me as solas
Quiçá tenha sido este o intento
Quando lançadas foram aos punhados 
Estas pedras caladas
Lascadas...



Meu riso morreu faz tempo
E meu olho ressecou nas cinzas,
No vento...

Mas inda dou passo.
Num ritmo sem tento,lento...


Ora eu quem inquire:

E este, que o mundo traz nos lábios ?

Este riso que não pertence aos sábios...
Este riso vago...

De quê vale ?
Devolve  pétalas às rosas?
Devolve-me as letras amorosas?
Minha  palma perfumada em pitangas?
O dorso lambuzado do sumo de mangas?


Não!
Digo que este riso a tudo sepulta
E se miradas fossem as ocas faces num caco de espelho
Veria-se  o mundo e seu olho vermelho
Dum choro escondido


Ainda caminho
E olhar pra trás nem é preciso
Trago tudo comigo,

As molas nas pernas das calças.
A areia rangendo entre os dedos
Os risos
O arroz colorido

Os cheiros de domingo...

Mas minhas mãos agora são de pedra
Tão duras
Tão frias...
Pesadamente eternas...




*Para meu pai...
 

Adah
Enviado por Adah em 28/10/2012
Reeditado em 31/10/2012
Código do texto: T3956816
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